EXPRESSO RELATO

Junho

Viajando de trem pela Itália

No mês de Junho, foi a vez da estudante de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora nos contar sobre a sua viagem de trem pela Itália.

Por Glaucia Martini



Durante meu ano morando na Itália, eu tive o prazer de viajar por vários lugares do país e usando quase todos os meios de transporte disponíveis: carro, avião, barca, ônibus e trem. 
Cada um com suas particularidades e seus prazeres, obviamente, mas o trem tem, por sua vez, uma magia que os outros meios não possuem. 

Fiz várias viagens usando o sistema ferroviário italiano, e o que mais me chamou a atenção foram os preços (dava pra viajar de uma província a outra gastando 30 euros, ida e volta, ou menos) e o extremo conforto nos vagões: cadeiras confortáveis, bastante espaço pra colocar a bagagem, visores luminosos informando a cidade onde seria a próxima parada, e raramente os trens estavam cheios. 

Os horários eram bem convenientes e o sistema de conexões é excelente! O valor pago nas viagens é equivalente à quantidade de quilômetros percorridos e, após ser validado, o mesmo deve ser usado em um período de 12hrs , portanto, pode-se fazer uma pausa para um café em uma cidade que tenha gostado sem perder o bilhete! 

A Itália é incrível e poder apreciar as belíssimas paisagens, os pores-do-sol, os grandes campos dedicados à agricultura enquanto se viaja confortavelmente de trem, faz de qualquer viagem ainda mais especial.

Maio

Um passeio de Maria-fumaça

                                                                                                                publicado em 29/06/2013

Em Maio foi a vez de Oswaldo Braga, presidente do grupo MGM falar sobre seu passeio  de Maria-fumaça nas cidades históricas de Minas Gerais Tiradentes e São João Del Rey.





Abril


De trem pelos Estado Unidos

publicado em 12/04/2013
por Thaís Corrêa da Costa


Este mês é a vez de Thaís Corrêa da Costa, estudante do bacharelado iterdisciplinar em Artes da UFJF, que conta a sua experiência ao fazer um intercâmbio pelos EUA e fez um passeio de trem pelas montanhas do Colorado.





Fiz esta viagem de trem enquanto estava nos Estados Unidos. No estado do Colorado tem uma grande cadeia de montanhas chamada Pikes Peak e esse trem sobe uma montanha até o topo dela, a viagem é incrível ‘escalando’ a montanha de trem, e a vista ao chegar ao topo, acima das nuvens, é mais incrível ainda.


Viajar em um trem é mágico! Dá uma sensação completamente diferente do que se fosse de outra forma. Subindo devagar, apreciando a paisagem do lado de fora, passando por caminhos que dificilmente outro meio de transporte poderia passar.


Viajar de trem é nostálgico, é lindo e a melhor oportunidade pra apreciar paisagens incríveis.


Março


Pelos trilhos italianos!

publicado em 25/03/2013
por Thomas Gomes Castro

Esse mês é a vez de Thomas Castro, aluno do 8º período do curso de Turismo da UFJF, contar sua experiência na Itália durante o intercambio que fez para Portugal! Confira!


Meu nome é Thomas Gomes Sant’Ana de Castro, aluno do 8º período do curso de Turismo da Universidade Federal de Juiz de Fora. No semestre passado realizei um intercâmbio de graduação pela UFJF na cidade de Faro, capital do Algarve, região das famosas praias de Portugal. 

            Uma vez no continente europeu por seis meses, tive a oportunidade de conhecer alguns países, um deles é a Itália. Um dos grandes diferenciais das viagens no país é a grande funcionalidade do sistema de transporte ferroviário. A conexão de trem entre as mais de 100 cidades italianas é fator motivador para que o turista visite mais de uma cidade italiana.


            Antes de qualquer coisa, o sistema de vendas de passagem online é extremamente explicativo e possui sites em vários idiomas, neste caso me refiro a maior empresa do ramo, “Trenitália”, que foi a minha escolhida para conhecer as cidades de Milão, Verona, Veneza e Roma. Horários, preços e pontos de chegada e partida são outros diferenciais para quem viaja de trem na Itália. Há vários horários disponíveis entre todas as cidades e os preços são extremamente interessantes, comparados aos outros sistemas de transporte. 

            O que mais me deixou encantado em realizar essas viagens de trem é o fato de poder aproveitar o “tempo morto” de viagem entre as cidades, observando as belas paisagens, cidades em que a locomotiva apenas estava de passagem, enfim, apreciar muito mais do que uma viagem de avião, por exemplo. Além disso, o conforto dos vagões é inacreditável, você parece estar na primeira classe de qualquer aeronave internacional. Sem contar a segurança em estar viajando perto das suas bagagens e ter o controle das mesmas.

            Sem dúvida a Itália se mostrou muito mais apaixonante pelo fato das minhas viagens de trem. Toda a beleza apresentada pelo correr dos trilhos me apresentou um continente conectado, rico em visuais deslumbrantes. Quem for à Itália, a grande fica que ofereço é que desfrute dessa cultura das viagens de trem, uma delas se torna quase um novo atrativo turístico.




Fevereiro

Arthur Azevedo em Juiz de Fora

publicado em 05/03/2013
por Adriene Rodrigues

Nessa edição, o Expresso Relato será especial! Em 1888, Arthur Azevedo, poeta e jornalista conhecido da época, resolveu visitar Juiz de Fora, e ficou encantado pelas paisagens “pitorescas” que viu ao longo do rio Paraibuna. Confira o relato dessa viagem, que foi publicado em edições de “Novidades” e “O Pharol” de 1888, no blog do Sr. Amu!






Por Dormevilly Nóbrega
Em 1888, inesperadamente, Artur Azevedo resolveu visitar Juiz de Fora. Vindo do Rio, aqui chegou a 27 de março, e daqui enviou a um amigo (que não conseguimos identificar) a carta que se segue e que foi publicada no “Novidades”, de 6, 9 e 12 do mês de abril, sob o título “Três dias em Juiz de Fora”. “O Pharol”, de 13 de abril daquele ano, publicava: “Artur Azevedo. Pedimos vênia ao nosso distinto colega do ‘Novidades’ para transcrever as interessantes epístolas que sob a epígrafe – Três dias em Juiz de Fora – dirigiu-lhe aquele nosso talentoso colaborador.” E através dos números de 13, 14, 16, 17 e 18 do referido mês, apresentou, de fato, as referidas transcrições, menos a parte final, que só fomos encontrar no “Novidades”, de 12 de abril.

27 de março.
Meu amigo. Sabes onde estou? Sabes de onde te escrevo? De Juiz de Fora! Acho-me aboletado há dez minutos no quarto nº 11 do Hotel Rio de Janeiro, o melhor dos vinte e tantos estabelecimentos aqui.
Acabei de tomar um banho tépico, e sinto-me bem disposto, apesar de não ter feito completamente a digestão do almoço, aliás excelente, que devorei às pressas no restaurante da estação de Entre-Rios.
Tenho ao meu lado uma boa cama, a provocar-me com os seus lençóis frescos e alvos; estou aqui, estou fazendo uma soneca reparadora.
Antes, porém, de dormir, quero dar-te notícias minhas, aproveitando o trem que desce e não tarda nada.
Admiras-te de me ver em Juiz de Fora? Foi uma coisa que resolvi da noite para o dia.
As pequeninas viagens fazem-se de sopetão, ou não se fazem. Uma pessoa está sossegada, não pensa em deixar seus cômodos. De repente aparece-lhe um amigo:
- Vamos a tal parte?
- Pois vamos lá!
Assim tem ido muita gente até mesmo ao Polo Ártico; eu, mais modesto, contentei-me com Juiz de Fora. Aí tens tu.
Eu só conhecia o ramal de Minas até a estação do Desengano, e tinha acerbas recordações de umas estopantes viagens à Valença; não por causa da cidade, em que pese à sua taciturna melancolia, mas por causa dos solavancos dos carros da União Valenciana. Isto foi há um bom par de anos: é possível que hoje essa via férrea trate melhor os pobres passageiros.
É justamente do Desengano para cima que a viagem mais pitoresca se torna.
Dificilmente se poderá encontrar paisagem mais encantadora que a da povoação de Paraibuna, vista das portinholas do trem.
À esquerda, um monstruoso e majestático pedregulho domina o quadro inteiro. O rio serpeia preguiçosamente, banhando pequeninas ilhotas verdejantes. As casinhas, se aparência rústica, edificadas aqui e ali, sem a simetria monótona das cidades parecem disposta com um desalinho proposital e artístico. Ao fundo e à esquerda, vastas colinas verdes e felpudas.
Há naquele belíssimo cenário uma risonha harmonia de tons. Tudo ali se combina maravilhosamente. Os meus olhos extasiam-se deveras, posto que fatigados de contemplar bonitas paisagens durante cinco ou seis horas.
É notável que tanta gente haja visto o Paraibuna, e ninguém me falasse dele. É que os nossos patrícios, tanto se habituaram aos grandiosos espetáculos da natureza, que afinal de contas se tornaram insensíveis a essas manifestações irrefragáveis da intervenção de Deus na disposição das árvores e das montanhas. Reparei que no trem alguns passageiros, em vez de olhar embevecidos para tudo aquilo, continuavam a ler ou a cochilar indiferentemente, criminosamente.
Se eu fosse paisagista e levasse comigo a paleta e os pincéis, ter-me-ia demorado algumas horas na estação de Paraibuna.
Em compensação, folguei de ver que o rio me acompanhava até cá, tendo o bom gosto, que aplaudo, de sumir-se de vez em quando e voltar daí a pouco, inesperadamente, para não se tornar monótono.
Por hoje nada mais te direi. Ainda não vi a cidade. Demais, não tenho tempo senão para fechar esta carta e mandá-la à agencia do correio.
Até amanhã.
A.A.


Janeiro


DE LAZIO A TOSCANA, UMA VIAGEM PELA ITÁLIA.

Publicado em 11/01/2013
Por Rhuan Fernandes

Enquanto fazia intercâmbio em Portugal, Rhuan Fernandes, estudante de História na UFJF e estagiário do Museu Ferroviário, aproveitou para fazer um tour pela Europa, e dentro do roteiro uma viagem de trem de Roma à Florença, na Itália. Nessa edição ele conta como foi a experiência. Confira!




Dentre todas as fantasias por uma viagem pela Europa, meu grande sonho sempre foi o de conhecer a Itália. Tive esta oportunidade muito mais cedo do que jamais sonhei, em fevereiro de 2012 e tudo transcorreu de uma forma inimaginada. Muito real e tão interessante quanto possível!
Ocorre que fui a Europa como intercambista por seis meses, morar em Portugal, cidade do Porto e estudar na Universidade do Porto. Residir por lá como intercambista tem uma lógica muito diferente do habitual sonho das pessoas de comprar um pacote turístico. O sentido é de aventura. Mochila nas costas, pouco dinheiro e aventura!
A ideia, que compartilhava com minha amiga Camila, companheira nessa viagem-aventura pela Itália, era desfrutar tanto quanto possível não só os pontos turísticos, mas também o pouco habitual, desvendar os lugares “tais como são”, ver gente comum e lugares comuns: ver a sujeira no metrô de alguma cidade, a periferia de algum outro lugar, a comida de um restaurante não para turistas, etc. Obviamente tudo isso casava com a costumeira falta de dinheiro do intercambista brasileiro, que torna as aventuras ainda mais peculiares, digamos. Constituído esse cenário, conto então a viagem, pelo olhar desse estrangeiro que vos fala.
Estava Roma em meados de fevereiro, finalmente, quase chegando a hora de retornar para o Brasil, uma parte do sonho era realizada, a outra viria a seguir: Florença, para onde iria de trem. Em Roma havia nevado e ficava a expectativa por mais neve. A cidade estava enfeitada para um carnaval bem diferente do que conhecemos, à italiana e nos moldes mais clássicos, com direito a atores caracterizados no melhor estilo comédia Dell Arte apresentando espetáculos pelas ruas.
Na região da grande estação de trens de Termini era tudo, no entanto, bem diferente da parte mais turística – por mais que seja um contrassenso atribuir a uma estação de trens internacional a categoria de “não turística”. A neve de poucos dias atrás acumulada e suja nos cantos das ruas, muitas pessoas de diferentes idades, estilos, cores e nações se misturavam em um comércio comandado por chineses e italianos. Pessoas tomavam os famosos gelatos em dias com temperatura abaixo de zero, bebiam também os não menos famosos cafés italianos e circulavam no entorno da grande estação. Uma mistura de restaurantes, tabacarias, lojas de produtos de todo tipo, que em muito lembravam nossos camelôs, o terminal de ônibus ao lado e as ruínas – não as de “Roma Antiga”, que ficam em outra região daquela cidade -, que naquela área quase são quase silenciadas pelo caos dos transportes e do comércio.
Dentro da estação outro tipo de gente. Estrangeiros lendo jornais e esperando partidas, os próprios italianos saindo da capital para outras cidades da região do Lácio, fazendo o tão habitual e cotidiano movimento de seus trabalhos para suas casas. Eu esperava a minha partida, passagem em mãos, comprada com desconto na internet. Camila comigo, sentamos no chão lendo jornais de Roma e observando os passantes.
Lembro-me de muitas pessoas transitando, pessoas de todos os tipos se misturando em um movimento pra-lá e pra-cá. Outros brasileiros, holandeses, alemães, ingleses, americanos, muitos orientais e italianos, obviamente. Um barulho intenso e muitos trens chegando e partindo para outras partes da Itália. Meu destino e da Camila era Florença e nosso trem demoraria pra chegar! Então nos aquietamos e vivemos toda aquela uma hora na estação de Termini em que constatamos que nós, brasileiros, somos mais parecidos com os italianos do que com muitos portugueses. A Camila havia comprado a passagem errada e partiu pouco antes, eu fiquei esperando. Liguei pra família, contei umas moedas pra comprar um incrível sorvete de café expresso (!) e quase perdi o trem.
Perto da hora da partida ainda pedia informação sobre onde ficava o lugar de partida do meu trem, de classe econômica, certamente. Com vergonha do meu italiano falei em inglês e recebi uma patada de um policial que claramente não sabia a língua e não sabia também me dar a informação. Mas encontrei o trem, que saiu muito atrasado, só pra provar o quanto somos parecidos com os italianos, ao menos os de Roma.
Minha passagem, comprada por 15 euros, em mãos. Eu acomodado em um banco confortável de um Frecciarossa, da companhia Trenitalia. Ao meu lado sentou-se uma senhorinha de uns muitos anos (estimei 80), com um vestido verde e azul escuro, um pequeno chapéu cor de creme que não imaginava ver fora de um filme sobre a década de 20, brincos dourados de pérolas e cordões também de pérolas. Ela era pequena, muito branca e enrugada e tinha olhos apertados e brilhantes. Falava em italiano comigo e sem esperar minha resposta ria e ria mais um pouco. Lembro-me que ela falava mal dos alemães que haviam passado por nós no começo da viagem.
Depois deve ter me achado um pouco quieto e desistiu de conversar para ler seu jornal. Eu olhava para a leitura dela de rabo de olho e percebi que, de modo pouco habitual ela virava o jornal para que eu conseguisse ler e não o contrário. Depois falou mal de um adolescente coreano (ou chinês?) que estava sentado na nossa frente comendo e sujando o trem e desceu na primeira cidade depois de Roma. Falei “Ciao!” em resposta (ou “tchau” mesmo, não sei!) e ela olhou meio desgostosa pro coreano, sorrindo amarelo para ele.

Vista da janela do trem
O coreano agora dormia de forma espalhafatosa e eu pude perceber melhor o mundinho de dentro do trene e também voltar meus olhos para o lado de fora. Cidades pequenas e médias, bonitas e feias e algumas bem parecidas com as nossas passavam ante meus olhos interrompendo por alguns minutos a paisagem bonita daquele dia que teve um entardecer incrível!
Passamos por campos verdes com ciprestes que vez ou outra davam espaço a campos com neve, passamos por regiões de produção agrícola e por um outro lugar tomado por ovelhas (ou carneiros? Sei lá) mas sobretudo um grande vazio, bucólico pacífico e verde, tingido pelo sol que se punha, dourado, meio avermelhado, deixando o horizonte colorido. O translado provocava, junto ao sono, uma viagem mental também, mas meus olhos não pregavam. A vontade de ver os campos e as cidades, ora sujas, comuns e encantadoras, ora lindas e não menos encantadoras era maior.
Foram quatro horas de viagem e meu amigo coreano acordou em algum momento, sacou um imenso Ipad da bolsa para tirar uma foto de si mesmo com as paisagens ao fundo e... voltou a dormir, roncando. O universo de dentro do trem se transmutava pouco a pouco em cada parada (e acho que foram mais de dez) e só alguns companheiros iam permanecer até Florença. Muitos italianos liam, bastante aconchegados em suas cadeiras. Livros de todo o tipo. Da auto-ajuda a livros sobre medicina, passando por muitos romances. A minha viagem se passava também na minha cabeça. Dentro do trem foi que percebei. “Estou na Itália. Caramba!”, pensei.


A seguir viria a compleitude do sonho de uma forma bastante real. Saindo da Estação de Trem de Florença, poucos metros à frente, a linda igreja de Santa Maria Novella dava sinal de que eu havia chegado! Era uma nova cidade, completamente desconhecida em seus detalhes e peculiaridades. O primeiro passo era conseguir um mapa e a seguir eu deveria descobrir aquele novo mundo. Mais uma aventura. A cada cidade tudo era novo. E eu estava na Itália!



2012
Novembro
NO TREM DA SELVA ATÉ AS CATARATAS

Publicado em 28/11/2012
Por Raphaela Corrêa


Em setembro, Raphaela Corrêa aproveitou a viagem que fez para celebrar o casamento de uma amiga argentina para conhecer as Cataratas do outro lado da fronteira. Para alcançar a famosa Garganta Del Diablo, embarcou no Tren Ecológico de la Selva, que foi trazido da Inglaterra e projetado especialmente para o Parque Nacional de Iguazú de modo a permitir que os passageiros pudessem apreciar a frondosa natureza e a fauna que os rodeia.

Conhecer as impressionantes Cataratas, situadas na fronteira entre Argentina e Brasil, foi sem dúvida um grande estímulo para vencer a longa distância que teria que percorrer até alcançar a província de Misiones, onde seria celebrado o matrimônio de uma querida amiga argentina, evento que não queria perder por nada!
Nesta mesma província está situado o Parque Nacional de Iguazú, de onde as Cataratas podem ser apreciadas por trilhas ou aventuradas através de passeios náuticos, em uma perspectiva e interatividade distintas das que o território brasileiro oferece. Um interessante suporte de acessibilidade aos atrativos deste parque é o Tren Ecológico de la Selva, um meio de transporte alternativo que possui um sistema de menor impacto ambiental por ser movido a gás naturalFoi especialmente importado da Inglaterra, desenhado pela empresa Alan Keef Ltda., uma companhia especialista em trens de passeio, que construiu máquinas para Parques da Ásia e Europa.
Projetado exclusivamente para o Parque Nacional de Iguazú, seu desenho leva em conta as características especiais do clima e da bela natureza do local. Permite que o visitante tenha contato direto com o meio ambiente e viva a experiência de um passeio no meio da mata, percebendo os aromas, as variações climáticas e os sons da floresta. Os trens viajam a menos de 20 km por hora, para evitar o atropelamento de animais. Sua capacidade é de 50 passageiros por vagão.
Em um percurso aproximado de 40 minutos, o Tren de La Selva passa pela Estação Central, a Estação Cataratas e a Estação Garganta do Diablo, pontos estratégicos para o fácil acesso às trilhas que levam aos Circuitos Inferior e Superior, a Trilha Verde e à Garganta Del Diablo, ponto forte das Cataratas.
Conhecer este belo patrimônio natural que é considerado uma das sete maravilhas do mundo foi ainda mais inesquecível e divertido através deste charmoso trem. Ah! Vale ressaltar que para embarcar nesta viagem não tem custos extras para o visitante do parque, basta entrar e apreciar a paisagem! 



Outubro
DA JANELA DO TREM
Publicado em 30/10/2012
Por Laura Coutinho Felz



No Mês das Crianças, Laura Felz, 7 anos, conta a sua experiência nos trilhos de Minas. A pequena, que fez um passeio entre Tiradentes e São João Del Rei em março de 2009, expressa em um poema as suas recordações. Leia! 
Laura aproveita viagem de Maria-fumaça ao lado de 
sua mãe, Iluska Coutinho
                
                 Da janela do trem
                 vejo pássaros
                 a voar,
                 vejo árvores a balançar.
                 Sinto o vento, tão sereno.
                 Escuto seu apito
                 e percebo o seu vai-vem.








Setembro
CAMPOS DE GIRASSÓIS
Publicado em 20/09/2012
Por Rodrigo Souza Silva


Em viagem pela França, em julho de 2011, o estudante de Comunicação Social, Rodrigo Souza Silva, foi além dos trilhos. Ao se deparar com um campo de girassóis, ele levou suas lembranças e sonhos a um passeio que contemplou o deslocamento do corpo e do pensamento. Leia!


Quando é que começa uma viagem? Para muitos, é a partir do momento em que chegamos nosso destino final. Uma viagem a Brasília, por exemplo, só começaria a partir do momento em que lá aportamos e, o deslocamento, dependendo do transporte, torna-se, por vezes, algo insuportável. Contudo, como aponta a origem da palavra, viaticum, que significa “jornada”, o ato de viajar está muito mais atrelado ao percurso, ao entre lugares.

Entendida desse modo, uma viagem relaciona-se tanto com o deslocar físico quanto o do pensamento. Naquele momento em que estamos viajando, permitimo-nos pensar acerca de assuntos pessoais, de afazeres profissionais ou até mesmo de sonhos, seja acordado ou tirando um cochilo. É como se nos olhássemos a partir de um ponto de vista de fora, estrangeiro.

Em uma dessas viagens que estava fazendo sobre o sul da França, meus olhos foram atraídos por uma imensidão amarela que vi através do vidro do trem que viajava: eram campos de girassóis a perder de vista. O amarelo, para a cromoterapia, é uma cor que se associa com a expressão de nossos pensamentos, que ajuda a assimilar novas ideias, e que contribui para a compreensão de diferentes pontos de vista.

Talvez seja esse matiz expansivo do amarelo que inspirou, dentre outros artistas, o pintor holandês Vincent Van Gogh. Doze girassóis numa jarra, de 1888, uma das telas mais famosas do mundo, foi realizada durante a estadia de Van Gogh na cidade de Arles, no sul da França. Foi nesse período que a obra do pintor sofreu a chamada “explosão de cor”, o que veio a refletir em toda sua produção posterior.

O girassol, uma das principais manifestações naturais do amarelo, é uma planta que germina, floresce e morre no período de um ano, período durante o qual segue sempre a luz do sol. Portanto, é uma flor em constante deslocamento, impermanente, transitória, assim como estava o meu pensamento durante aquela viagem. Um pensar tomado de lembranças do recente período de intercâmbio realizado em Portugal, de saudades da família que ficou no Brasil e de projetos para quando retornasse ao continente americano – por sinal, lugar de origem dos girassóis –; e isso tudo tendo como trilha sonora aquele barulho da roda sobre os trilhos de trem.



Agosto
Publicado em 21/08/2012
Por Tereza Miranda


Através de fotografias e poesia, o Expresso Relato deste mês compartilha a experiência da artista plástica Tereza Miranda no passeio de Maria-fumaça entre as cidades de Tiradentes e São João Del Rei, MG. Desfrute deste relato artístico!






Julho
Publicado em 27/07/2012
Por Luiza Bravo


Em intercâmbio no sul da Inglaterra, a estudante de Comunicação Luiza Bravo, teve a oportunidade de conhecer a malha ferroviária do país. Apesar de ter se admirado com a estrutura da ferrovia, uma pane na rede elétrica em uma cidade do País de Gales alterou a viagem de trem da estudante. O depoimento sobre este e outros passeios inesquecíveis, você confere aqui!

Luiza (de branco, à esquerda) e suas companheiras 
embarcam, em Londres, para mais uma viajem de trem
Entre junho de 2011 e março de 2012, tive a oportunidade de realizar um intercâmbio em Bournemouth, no sul da Inglaterra. É impossível não se impressionar com a extensa malha ferroviária do país, que permite que qualquer pessoa se desloque entre os quatro cantos do Reino Unido de forma prática e muito segura.

É lógico que imprevistos acontecem, e certa vez, voltando da capital do País de Gales, acabei levando mais de sete horas para voltar à minha cidade, em um trajeto que, normalmente, levaria apenas três horas. Houve uma pane de energia elétrica em uma cidade bem distante de Cardiff (capital do País de Gales), mas como toda a rede ferroviária é interligada, o resultado foi em cascata e nosso trem teve que ser desviado diversas vezes.

No final, passamos por quatro estações diferentes e fomos até o a região central da Inglaterra, quando deveríamos seguir praticamente em linha reta pelo sul. A previsão de desembarque em Bournemouth (minha cidade) era por volta das 21h, mas chegamos quase à 1h da manhã...
Entre as viagens marcantes que fiz de trem, não posso deixar de citar o trajeto Londres-Paris, operado pelo Eurostar. O trem de alta velocidade cruza o Canal da Mancha por baixo d’água e é possível viajar entre as duas cidades em pouco mais de duas horas. Inesquecível!


Junho

FÉRIAS DE JUNHO NO RIO
Publicado em 26/06/2012
Por Amarildo José Mayrink


O projetista Amarildo Mayrink conta sobre a viagem que fez com seus familiares com destino a Duque de Caxias, no estado do Rio de Janeiro. A turma que saiu da Estação de Bicas para comemorar o aniversário da avó, vivenciou alegrias e travessuras nesta viagem inesquecível! O depoimento completo sobre esta aventura, você confere aqui!




No já distante ano de 1971, meu Avô José Mayrink, condutor ferroviário na Estrada de Ferro Leopoldina e minha Avó Maria Mayrink, por contingências naturais da profissão dele, resolveram mudar-se para o Estado o Rio, mais precisamente Jardim Primavera, no Município de Duque de Caxias. Seus filhos já casados ficaram em Bicas, Minas Gerais. 

Final do mês de julho, início de inverno e das férias escolares. Meu Pai, José Carlos Mayrink, também ferroviário reuniu com minha Mãe Lydia Dousseau Duque Mayrink (três filhos), suas irmãs Teresinha Mayrink Martins (sete filhos) e Stela Mayrink Soares (dois filhos) e cunhados Sebastião Martins e Marks Soares para programarem uma grande surpresa para minha Avó Maria, que aniversariava naqueles dias: Ir todos - as três famílias - festejarem juntos, o aniversário com ela no Rio.
Naquele tempo era sem dúvida uma grande aventura, já que eram doze crianças sendo quatro com menos de dois anos e dois recém-nascidos. Lógico que o fato de nosso Avô ser ferroviário – e também meu Pai – contribuiu, e muito, para viabilizar passagens a todos, já que se vivia com muita dificuldade. Seria no famoso Noturno, que cortava parte da Zona da Mata mineira e o Estado do Rio durante toda a noite e madrugada, chegando ao amanhecer na cidade de Duque de Caxias.
Amarildo e seus familiares embarcaram na Estação de Bicas
Tudo combinado, era chegado o grande dia. A realização do sonho de todas aquelas crianças, uma viagem de trem. E que viagem! Todos eufóricos e com grande expectativa! Rosa Maria, Sônia e Marly, as netas mais velhas da turma cuidavam de comandar os demais. Não precisa dizer que as três famílias (dezoito passageiros) tomaram quase todo o vagão, com as crianças disputando as janelas.
O apito da Maria-Fumaça avisava que estávamos de partida. Começava a viagem. E cadê que a criançada dormia? Tudo era motivo de deslumbramento. Céu estrelado. Noite linda! O trem ia cortando as montanhas de Minas. Vento no rosto, apesar do frio, e a paisagem escura da noite iluminada por vaga-lumes. Nossos pais conversavam assuntos diversos enquanto nossas mães cuidavam de ilustrar nossas fantasias, lembrando que era época das festas juninas e que os céus do Rio ficavam povoados de balões.
Em Três Rios, trocava-se a locomotiva. Saía a Maria-Fumaça, entrava uma Diesel e nossa aventura continuava. Não sei precisar o motivo, mas o fato é que no meio da madrugada o trem parou e ali ficamos por mais de uma hora sem nenhuma estação por perto. E toma de histórias e músicas para distrair a criançada que não queria saber de dormir. Bebês choravam, mães amamentavam. A essa altura, os poucos passageiros que não eram da família já haviam buscado lugar em outro vagão. E a criançada fazia festa, podíamos escolher lugar. De repente, aquela sacudida. Era o trem reiniciando a viagem para o alívio de nossos preocupados pais. A criançada? Ah, a turma não estava nem ali para preocupações. Tudo era festa!
Miguel Pereira, Governador Portela e chegávamos a serra. E toma de descer! O trem rangendo trilhos, as luzinhas das cidades ainda distantes brilhavam como vaga-lumes lá em baixo e toda hora vinha a mesma pergunta: tá chegando no Rio? E ia descendo, ia descendo... A molecada ali, acesa vibrando com cada instante naquele passeio maravilhoso.
Amanhecia o dia quando chegamos a Duque de Caxias. Saltamos todos para tomar outro trem, este de subúrbio, também puxado a máquina e com os mesmos vagões de madeira. Já estava claro quando chegamos a Jardim Primavera. Nem precisa dizer o quanto foi feliz o encontro com nossos avós, a festa de aniversário e o mais bonito céu que já havíamos visto: além das estrelas, estava repleto de pequenas luzes amarelinhas dos balões de que tanto ouvíamos falar e cantar.
Uma viagem que marcou para sempre a vida de todos. Em especial daquela criançada maravilhosa que realizou o grande sonho de viajar de trem. De ver a Maria-Fumaça e ouvir um dos mais belos e românticos barulhos que uma máquina pode produzir. Eu e todas aquelas crianças estamos hoje com idade entre 40 e 55 anos, mas o silvo maravilhoso do apito da Maria-Fumaça ainda soa em nossos ouvidos como se tudo tivesse acontecendo agora, belo, romântico, simplesmente maravilhoso!



Maio

Publicado em 24/05/2012
Por Bárbara Moreira

A estudante universitária, Bárbara Moreira, nos conta a experiência vivida em um trem que partiu de Paris com destino a Bordeaux, no sul da França. Esta bela viagem, entretanto, por pouco não aconteceu devido a alguns “excessos” que quase fizeram a estudante e seus companheiros perderem o trem. O resultado dessa aventura, você confere aqui!


Em março de 2010, fiz a minha primeira viagem de trem. O percurso, não muito longo, durou por volta de 3 horas e saiu de Paris, com rumo a Bordeaux, que fica no sul da França. Não fui sozinha, estava acompanhada da minha família e de amigos que moravam em Paris. A emoção começou já na hora do embarque, porque tínhamos que encontrar os guichês para imprimir as passagens e depois encontrar a plataforma de onde partiríamos. 

Apesar de certa antecedência, quase não deu tempo de chegar no trem. Durante a viagem, foi tudo muito tranquilo, a lanchonete era em um vagão próximo e o trem era muito novo, então não fazia muito barulho, nem balançava ou tinha mau cheiro. 

Se na ida já rolou uma certa correria, a volta foi infinitamente mais intensa. Por ser uma região conhecida pelos vinhos, resolvemos aproveitar e levar muitos na bagagem. Só que não contávamos que a logística até o embarque seria tão complicada, a começar pelo carrinho, que não encontrávamos. 

Como tinha muitos vinhos, não dava pra carregar na mão. A hora de partir se aproximava e nada de encontrar o carrinho. Depois de muito custo, conseguimos um e, com isso, veio outro problema: descer com ele para a plataforma de embarque. Os elevadores estavam cheios, não achávamos rampas. Com muito custo, os homens conseguiram descer a escada com todo aquele peso. 

Chegando na plataforma, tínhamos que encontrar o vagão certo ainda, mas o apito do trem começou a soar e, para não ficar pra trás, entramos em qualquer um. Mas o nosso ficava muito depois daquele e tivemos que atravessar muitos e muitos vagões até chegar no certo e, só então, aproveitar a viagem de volta. Mesmo com toda a correria, eu faria tudo de novo. 




Abril


EMBARQUES E DESEMBARQUES PELAS GARES FRANCESAS

Publicado em 25/04/2012
Por  Humberto Fois-Braga


O professor universitário do Curso de Turismo da UFJF, Humberto Fois Braga, compartilha com a gente, as suas peripécias pelas linhas férreas francesas, até chegar à cidade de Foix (capital do departamento do Ariège, no sudeste da França). Saiba mais sobre esta aventura!




Em setembro de 2004, cheguei à França para cursar Master II em Gestão de Organizações Turísticas. E se uma viagem sempre traz expectativas de novos olhares sobre o mundo, estas possibilidades já começaram a se concretizar quando o avião aterrissou em Paris. Explico-me: embora tenha chegado pela capital francesa, meu destino final (onde iria morar e cursar a faculdade) era a cidade de Foix (capital do departamento do Ariège, no sudeste da França).
Foi neste momento que começou minhas peripécias pelas linhas férreas francesas.
Ao sair do aeroporto de Orly, peguei um traslado que me levou à Gare Montparnasse: a estação de trem parisiense que tem saídas para a região sudeste francesa. Sem ter programado antecipadamente este trecho da minha viagem, e sem domínio completo da língua francesa, fiquei desorientado culturalmente em relação ao que fazer e como me comportar.
Até à gare parisiense, tudo correu bem, mas como chegar a Foix? Depois de carregar duas malas pesadas, estando sozinho, subindo e descendo escadarias da estação, finalmente descobri que havia um TGV (os famosos trens de alta velocidade) que partiria para Bordeaux em algumas horas; e de lá eu poderia pegar um trem para Toulouse e, finalmente, com muita sorte (pois o trem chegaria nesta cidade por volta da meia-noite), conseguiria embarcar no último trem para Foix.
Sendo minha primeira viagem de trem por um país desconhecido, a aventura prometia: quatro estações e três trens desconhecidos me aguardavam, sem dominar a língua e os hábitos culturais daqueles que possuem as linhas férreas como meio de transporte rotineiro.
Embarcar no TGV para Bordeaux foi uma situação inusitada: depois de achar o vagão correspondente ao meu assento, descobri que as malas são colocadas em um compartimento coletivo, e a responsabilidade de tomar conta para que não haja furto cabe a cada passageiro. Mas, como vigiar as paradas em cada estação, sendo que estava sentado em um assento afastado? Foi uma senhora, vendo meu sufoco, e que estava estrategicamente bem situada próximo a tal compartimento, quem se ofereceu para vigiar as minhas bagagens – entendi, mais pelos gestos do que pelos verbos, que ela estava querendo me ajudar.
Voilà, com o TGV partindo da Gare Montparnasse, pouco a pouco ele tomou velocidade e serpenteou fora do tempo e espaço pelo território francês. A paisagem, progressivamente, se fluidificou nas janelas e todos no interior do trem entraram em um estado letárgico de espera: casa-menino-cachorro-rio-casameninocachorroriocasmencachocamecacmc.... A imagem se misturava na janela.
Chegando a Bordeaux, já tarde da noite, a estação estava vazia e não pude contar com a ajuda de outros passageiros – e entre tantas plataformas de embarque, em qual deveria esperar pelo trem que me levaria até Toulouse? Creio, sinceramente, que os deuses das estações ferroviárias me ajudaram: pois se não compreendia perfeitamente as informações que eram anunciadas no alto-falante, eu simplesmente “chutei” em qual plataforma deveria ficar e, neste golpe de sorte, eu acertei. Depois de mais um sobe e desce de escadas - afinal, a conexão entre as plataformas é feita por escadarias subterrâneas que passam por debaixo das linhas férreas e não há nem elevador e nem escada rolante -, consegui embarcar em um trem com destino a Toulouse. Este trecho foi calmo, não estávamos em um TGV, e a paisagem obedecia a seu ritmo natural de desfile pelas janelas dos vagões: casa-menino-cachorro-rio-casa-menino-cachorro-rio... Porém, o que me aguardava na outra ponta, na Gare de Toulouse-Matabiau?
Infelizmente, em Toulouse, cheguei tarde, o trem que me levaria para Foix já havia partido. A solução, pois, era dormir na estação, e aguardar o primeiro trem diurno para meu destino. Mas, qual foi minha surpresa quando o guarda pediu a mim e aos demais passageiros para se retirarem da estação, pois ela fechava, e só reabriria às 6h da manhã! A solução, enfim, foi passar as horas do lado de fora da estação, na companhia dos mais novos amigos, os demais “passageiros sem-teto”. Admito que, embora estivesse cansado, a experiência foi inusitada: um espanhol que pretendia chegar à Barcelona, uma senhora que ia para Paris e um senhor que trabalhava na cidade de Carcassonne foram minhas companhias. As horas fluíram com estas conversas de “porta de estação”, o dia amanheceu, conseguimos entrar novamente na gare e acabei dormindo, no chão e rodeado pelas minhas malas, até que um guarda me acordou.
Finalmente, consegui embarcar para Foix, mas o cansaço era tanto que dormi, e as paisagens das janelas (que se tornaram tão familiares posteriormente) foram apagadas pelo sono: casa-menino-cachorro-rio-casa-menino-cachorro-rio... Mas foi no desembarque, na pequena estação municipal, ainda cansado e com fome, que tirei minha primeira foto em território francês: embaixo da placa da gare escrita FOIX, indicando que tinha chegado.
Também foi nesta estação que uma senhora, desconhecida e do nada, se ofereceu para me dar carona até o alojamento universitário, com direito à uma pausa em seu restaurante, onde me serviu, gratuitamente, um café da manhã!
Foi assim que se iniciou minha vida francesa, com longos percursos de embarque e desembarque pelas estações ferroviárias das terras gaulesas. Para mim, tudo era novo, inusitado e fora do meu contexto de vida - afinal, enquanto brasileiro, não estava habituado a andar de trem; e a última vez que havia subido em um tinha sido na minha infância, em um passeio turístico entre São Geraldo e Coimbra, em Minas Gerais.
Foi nestas linhas férreas e estações de trem que minha vida francesa foi tomando contornos, e foram por estas vias e gares que a França me deu as boas-vindas.

Posteriormente, o dia a dia tornou o trem um meio de transporte cotidiano: Toulouse, Carcassone, Paris, Barcelona, Montpellier, Andorra, Ax-les-Thermes...o trem e suas estações eram portões que me uniram a diversas cidades francesas e européias. Foram portais encantados, vivenciados diariamente como parte de uma vida que acontece pelo vai-e-vem das gares.


Março

VIAGEM SÃO JOÃO DEL REI À TIRADENTES

Publicado em 17/03/2012
Por  Jussara Nocetti



           A turismóloga Jussara Nocetti relata a beleza da viagem pelos trilhos entre São João Del Rei e Tiradentes, em que crianças e adultos, que moram à beira da ferrovia acenam com alegria para os passageiros. A fumaça da locomotiva, o apito, a hora da partida e a rotunda, fazem do passeio nostálgico, algo mágico. Confiram este relato!



          A viagem aconteceu no dia 4 de outubro de 2009, junto a um grupo de estudantes, dos cursos de Turismo e Geografia da UFJF. Chegando à São João Del Rei de ônibus às 9:20, o grupo saiu em direção à Estação de Trem da cidade. 
           Na estação ficamos aguardando a próxima saída da Maria Fumaça, que seria às 10:00. Enquanto eu aguardava, ansiosa, tive a oportunidade de visitar o Museu Ferroviário localizado na parte interna da Estação, local que pude fotografar um pouco sobre a trajetória da chegada do trem em Minas Gerais. A riqueza do Museu mostra como a chegada do trem, possibilitou e impulsionou o nascimento e o crescimento das cidades, as quais cresciam em volta das estações, mudando a sua paisagem natural para paisagem antrópica, aquela que é modificada pelo homem.
             Aproximando o horário de saída, o barulho do apito e a fumaça se intensificaram, dando sinais de partida, assim, o grupo se dirigiu para escolher o carro, em que faríamos a viagem. A subida até o interior daquela fantástica “máquina”, a Maria Fumaça, que mais parecia uma máquina do tempo, tornava a minha emoção ainda maior. Percorremos 12 km de estrada, com duração de 40 minutos. Dentro do vagão haviam vendedores de doces regionais, foi uma ótima oportunidade de começar a conhecer a culinária da região.
            No caminho repleto de de paisagens encantadoras, eu pude avistar da janela do trem a Igreja do Senhor Bom Jesus de Matosinhos,  e a praça que foi o palco da Guerra dos Emboabas, um confronto de 1707 a 1709, pelo direito de exploração das recém-descobertas jazidas de ouro, na região de Minas Gerais.
            Mais à frente, o Rio das Mortes, que acompanha um bom trecho do passeio, não possui mais marcas dos conflitos sangrentos que ocorreram em suas margens, mas forma uma paisagem nostálgica de lembranças de uma região em que a chegada da ferrovia, trouxe desenvolvimento.
            A viagem de trem é uma volta ao passado, conhecer um pouco dessa região tão importante na história do estado de Minas através de uma Maria Fumaça é indescritível!
            Ao chegar a Tiradentes, pensei que a viagem ao longo do tempo havia terminado, porém ao descer do vagão, para minha surpresa, pude presenciar a virada do trem para retorno à São João Del Rei, na rotunda, que até hoje funciona em perfeito estado de conservação. A virada é feita manualmente por quatro homens através de um sistema de roldanas. Neste instante pude ver de perto como os antigos ferroviários
           A cidade de Tiradentes é de uma beleza pitoresca, clima bucólico, com uma arquitetura deslumbrante. Andar calmamente pelas ruas de pedra, visitar os monumentos e as igrejas, tudo é muito agradável. Trazendo mais Historias do tempo, em que a Ferrovia, impulsionava o comércio da região. Vale a pena conhecer este passeio!




Fevereiro

Publicado em 17/02/2012
Por Edwaldo Sérgio dos Anjos Júnior


Edwaldo Sérgio dos Anjos Jr., professor universitário do Curso de Turismo, da UFJF, compartilha com a gente suas impressões da viagem que fez de Ouro Preto à Mariana (MG), pelo Trem Turístico da Vale. Uma viagem nostálgica que relembra o papel da Maria Fumaça, mensageira do progresso e da modernidade que invadiu o imaginário dos homens do século XIX e ainda encanta as pessoas com as belas paisagens que passam ligeiras pelas suas janelas. Saiba +





“Em junho de 2010, tive a oportunidade de passear entre as cidades mineiras de Ouro Preto e Mariana, pelo Trem da Vale. A viagem, que se deu em um sábado ensolarado, transcorreu como atividade final de um Seminário sobre Preservação Ferroviária, que aconteceu em Ouro Preto.
                A saída do passeio se deu pela recém reformada Estação de Ouro Preto, que, atualmente, abriga um museu a céu aberto, uma tenda de circo, funcionando como um Equipamento Cultural diversificado e com relativa preocupação com a comunidade ouro-pretana. Chegamos à Estação de Mariana, local que abriga, também, um centro de visitantes, que conta com um encantador acervo de relatos horais de ex-ferroviários, as oficinas da FCA (Ferrovia Centro Atlântica, que opera o Trem) e um parque infantil integrado à Estação, algo que até então jamais havia visto e que me causou positiva surpresa. Isso porque não apenas o parque é inspirado no ferro,  usado do piso aos brinquedos, mas porque esse equipamento favoreceu que a Estação esteja permanentemente ocupada... (por crianças!).
                Mas o momento mais enriquecedor e comovente desse trajeto, que, na verdade, é apenas um pequeno trecho de aproximadamente 19 km da antiga viagem entre Belo Horizonte e Ponte Nova, é a passagem pela Estação da Passagem, localizada em um topo de monte, local de maior altimetria do trajeto, que demarca um começo de descida encantador. Nesse local, é possível, ainda que a alguns quilômetros de distância, avistar a cidade de Mariana. Além disso, a locomotiva passa, a partir desse trecho, a deslizar sobre os trilhos e, em questão de minutos, um desnível de cerca de 400 metros entre Ouro Preto e a primeira capital de Minas é vencido!
Enfim, acredito que esse deslocamento possui um quê de metafórico. A via permanente, ao rasgar encostas e avançar sobre matas ciliares parece nos lembrar de que a ferrovia é como a vida e que, às vezes, é preciso ir de encontro aos obstáculos, justamente para superá-los.  Além disso, há várias pequenas pontes sobre nascentes e córregos, como que a sinalizar que parte aquele trajeto , assim como nós, pode estar sobre as instáveis e agitadas ondas, naquele caso das águas e, para nós, da existência.
Para os amantes da ferrovia, é um passeio imperdível, sobretudo se for possível ficar um bom tempo nas estações, observando a dinâmica em torno dessas plataformas de embarque, desembarque e, ultimamente, de convivência!”.



Janeiro
Publicado em 25/01/12
Por Sérgio Pontes

O médico Sérgio Pontes passou suas últimas férias viajando de trem e desbravando diversos países da Europa. Mas foi na Suíça que ele mais se encantou com os passeios sob os trilhos, com destaque para o Gornergrat, em Zermat, e o famoso Glaciar Express, que cruza os Alpes em uma viagem de 8 horas entre montanhas e florestas nevadas. Ele divide com a gente as emoções desta linda viagem!
A viagem a que se dedica este relato foi realizada com minha noiva em dezembro de 2011 e começou em Madrid, onde desembarcamos. Após conhecermos e revisitarmos algumas cidades espanholas, partimos então para nosso objetivo principal: percorrer os alpes suíços de trem.

Como tinhamos também a intenção de encontrar um casal de amigos em Friburg (Alemanha) e conhecer a romântica Bruges (Belgica) - patrimônio cultural da humanidade - o transporte ferroviário sem dúvida era o mais indicado para o roteiro por sua praticidade (as estações situam-se no centro das cidades e não é necessário check-in), oferta de horários, conforto e possibilidades de disfrutar as paisagens do caminho.

Para tanto, compramos um Eurail Pass (www.eurail.com), um sistema direcionado a não europeus que contempla diversas comapanhias de trem. Você pode escolher quais países visitar e por quanto tempo você quer viajar, com a possibilidade de embarcar e desembarcar em vários lugares em um mesmo dia, com direito a primeira classe e sem precisar pagar taxas extras por isso, com poucas exceções. Alternativa que compensa finaceiramente, já que a opção pelos trilhos costuma ser mais cara em relação ao transporte aéreo quando as passagens são compradas isoladamente.

Com nosso Eurail Pass em mãos, partimos de Madrid rumo a Genebra - localizada no centro da Europa ocidental e situada na região oeste da Suíça, é a segunda maior cidade do país (depois de Zurick), onde predomina o idioma francês. O percurso é longo, dura aproximadamente 12 horas e envolvem conexões em Barcelona e Montpellier (França). Mas a bela paisagem, especialmente a do sul da França, compensa a espera e ameniza a vontade de logo chegar.

Quando desembarcamos no nosso destino já era noite, nos hospedamos na região central, próximo a estação. Não foi preciso muito esforço para nos fazer entender, tem português em todos cantos na Suíça! Demos um rápido passeio por ali antes de dormir e pudemos perceber que nem mesmo este país considerado um dos mais ricos do mundo escapa da prostituição e do comércio de drogas. Práticas escancaradas, notáveis até mesmo ao passante mais desatento. Certamente não é o que a maioria espera encontrar em uma cidade que está classificada entre as três com melhor qualidade de vida em âmbito global.

Contudo, no manhã seguinte a dinâmica da cidade era outra e surpreendentemente o mesmo prostíbulo da noite anterior servia café da manhã para famílias! Genebra se afirmara como um importante centro econômico, diplomático e de cooperação internacional (em razão da presença de inúmeras Organizações Internacionais, incluindo a sede de muitas das agências das Nações Unidas e da Cruz Vermelha).

Nossa passagem por alí era rápida, neste mesmo dia iríamos partir rumo aos Alpes. Fomos então em busca de suas principais referências. Começamos por um passeio às margens do lago Léman - dito o maior lago do Velho Continente – de onde podemos avistar o Monte Branco (Mont Blanc) – por sua vez considerada a mais alta montanha dos Alpes e da Europa Ocidental, atingindo uma altitude de 4810,45 metros.

Nas redondezas do Léman, apreciamos a arquitetura da cidade, suas famosas relojoarias, suas ruas e igrejas ainda mais bonitas com decoração de natal, fomos surpreendidos por uma grande maratona em torno da Catedral de St. Pierre, animada com orquestra e feira de comidas e bebidas típicas. Deu vontade de ficar, mas se aproximava o horário do trem que nos levaria a Zermatt, tinhamos que buscar nossas coisas no hotel. No caminho, músicos com roupas tradicionais tocavam o curioso instrumento alphorn, típico dos Alpes. Ainda passamos pelo famoso relógio de flores e aproveitamos para acertar nossos ponteiros. Vale lembrar que os trens na Suíça são pontualíssimos, não se pode desprezar nenhum segundinho sequer!

Durante a viagem fomos apreciando os montes nevados e os belos chalés da região enquanto íamos nos aproximando dos Alpes e conversando com um português muito simpático que, como muitos outros seus conterrâneos, foram viver na Suíça em busca de uma melhor qualidade de vida. Com ele pudemos conhecer mais a realidade do país e a conversa foi tão boa que nem vimos o tempo passar, logo chegamos em Zermatt.

Já na estação pudemos perceber que o frio se intensificou, estávamos a 1620 m de altitude, mais de mil metros acima de Genebra. Zermatt é uma linda vila entre montanhas e tem um toque especial porque não entra carros particulares, o que nos permite caminhar tranquilamente pelas ruas. Em compensação, tem uma variedade de trens e teleféricos para ascender até os pontos mais altos das montanhas e às suas estações ski. Ali o idioma mais falado é o alemão e o segundo, para nosso alívio, o português!

Aliás, estávamos apenas aos seus pés do nosso objetivo, chegar o mais próximo do pico Matterhorn (4.478m), o mais famoso da Suiça. Este foi nosso plano do dia seguinte, que realizamos através do trem que leva até o glaciar Gonergrat. A estação da ferrovia Gornergratbahn fica em frente à estação principal de Zermatt. Não é barato, ida e volta custa 80 francos suíços/72 euros. Como não passa por vilarejos, é tida como uma ferrovia turística, logo, o Eurail Pass só dá 25% de desconto (o Swiss Pass, exclusivo da Suíça, dá 50%).

O percurso é rápido, dura 35 minutos. É bastante íngreme e passa por várias estações de ski. A propósito, os passageiros, em grande maioria, estão acompanhados de seus equipamentos, preparados para deslizar pelas montanhas abaixo. É importante observar que devido ao declive do trajeto, os trilhos são bem diferentes dos tradicionais, eles tem uma espécie de garra e são conhecidos como “cremallera”, que em português significa zíper. Lá de cima, a vista é impressionante e muito frio também! Tem neve para todos os lados e além do Matterhorn, é possível ver o também famoso Monte Rosa.
Estasiados com tanta beleza, nos demos o direito a um “luxo” e tomamos uma garrafa de vinho no restaurante de Gornengrat para brindar aquele momento especial!
A noite em Zermatt parecia animada, mas preferimos descansar e nos preparar para o dia seguinte, quando faríamos o famoso percurso do Glaciar Express, ao longo dos Alpes Suíços, cadeia montanhosa que atravessa desde o sul até a região central da Europa com uma altitude média de 1700 metros e que representa quase dois terços de toda a totalidade da área da Suíça. Entre os alpes suíços estão 48 montanhas que têm pelo menos 4.000 metros de altitude.
Ao abrir a janela de manhã fomos presenteados com neve, muita neve! A paisagem era outra, as ruas, os jardins e os telhados estavam cobertos de gelo. Novamente deu vontade de ficar, mas tinhamos que partir e não podia ser tarde, tendo em vista que o trajeto dura 8 horas e quando escurece as janelas do trem começam a refletir o interior do carro, não permitindo ver a paisagem lá fora. Então, já era hora de partir...
O Glaciar Express é considerado “o mais lento trem expresso do mundo”. Mas sua lentidão é favorável à contemplação dos vales alpinos entre dois turísticos vilarejos: Zermatt e St. Moritz. É um trem panorâmico, com serviço de bordo especial. É preciso reservar e, mesmo com Swiss Pass, pagar uma taxa extra.
Infelizmente fomos surpreendidos com a informação de que o Glaciar não circula em novembro e parte de dezembro, justo no período em que estávamos lá. Mas a mesma viagem pode ser feita em trens regionais, em três etapas: de Zermatt a Visp; de Visp a Disentis ou Chur; e finalmente de Disentis ou Chur a St. Moritz. Para quem tem Swiss Pass só é necessário pagar uma taxa de reserva (aproximadamente 30 euros), mas para Eurail é preciso pagar porque parte do trajeto que é feito por uma companhia que não é contemplada por este sistema (em torno de R$60 euros)
Durante quase todo o tempo nevou, as lindas vilas situadas nas encostas das montanhas estavam cobertas de gelo, os lagos congelados. Tinham casas que praticamente só podíamos ver o telhado. Logo, aquele gramado verdinho e vaquinhas pastando com sininhos no pescoço tão presentes nas publicidades dos Alpes, ficaram escondidos. Mas para nós que nunca tínhamos visto neve foi muito mais exótico da maneira como vimos.
Entre Chur e St. Moritz o trem atravessa a Passagem de Albula, o trecho da Ferrovia Rética classificado como patrimônio da humanidade pela Unesco. É quando passamos sob os viadutos em curva que permite ver parte do trem adiante, em meio àquele paraíso.
Uma experiência inesquecível que recomendo a todos que tiverem oportunidade de conhecer e, claro, disposição de desfalcar o bolso! Afinal, tudo isso tem seu preço. Suíça é um destino caro, até mesmo as opções mais econômicas de hospedagem e alimentação são onerosas. Mas vale a pena cada centavo, tudo é de muita qualidade.
Então, fica aí a dica: aproveite a malha ferroviária do país para explorar o que ele tem de melhor: seus campos, lagos, montanhas… seja no inverno ou no verão. Os trens são pontuais, rápidos e confortáveis. E a maioria das estradas não passa por estes lugares e alguns centros históricos não permitem carros.
Nossa viagem não terminou em St. Moritz, mas a continuação... aí já é outra história!



Dezembro 
Publicado em 22/12/11

O segundo capítulo da história que nos conta a relação de Francisco Bandeira com a ferrovia, acontece na Europa em 1997. Ele teve a oportunidade de fazer uma viagem de Roma a Verona no "Pendolino", o trem de alta velocidade italiano da época.


Vamos à aventura no velho mundo.


Francisco Bandeira no Museu Ferroviário


     Fevereiro de 1997, partimos, eu e meu grande amigo Tibério Alfredo Silva para um seminário internacional em Palma de Majorca, Espanha. Durante aproximadamente 25 dias participamos de vários cursos e palestras acerca da gestão turística na Espanha que era a "bola da vez" no turismo internacional. Nos fins de semana e dias de folga, corremos para alugar um carro e partimos para conhecer as maravilhas da bela "Isla Majorca" a maior do arquipélago de baleares. Terminados os trabalhos, optamos por abandonar o grupo formado no Brasil e ficamos mais alguns dias. Primeira parada, Roma. Simplesmente maravilhosa. Tomamos um banho de cultura. A cada passeio ficávamos mais e mais maravilhados. Foi quando Tibério teve uma lembrança. Um outro amigo comum, Mario Gaio, residia agora em Verona, norte da Itália. Fizemos contato e nos oferecemos (rs, rs, rs) para matar a saudade, fazendo uma visita. Mas como iríamos? Alugar um carro, avião? Óbvio que não, estávamos na Europa, onde os trens além de funcionais, são o verdadeiro transporte de massa, pois, são extremamente limpos, com excelente manutenção, pontuais e possuem infinitos trajetos e roteiros.
     Estávamos hospedados em um pequeno hotel próximo ao "Termini di Roma" o terminal rodoferroviário principal da capital italiana. Conseguimos vaga no "Pendolino", o trem de alta velocidade italiano da época. Segunda classe, mais barata, portanto condizente com estudantes quase mochileiros. Estação de embarque, cerca de dez minutos antes do horário de partida previsto, tomamos nossos lugares. Muitíssimo mais confortáveis que qualquer poltrona dos nossos ônibus de luxo. Três minutos antes da partida, o primeiro apito. Dois minutos o segundo. Um minuto, o último apito, portas fechadas, e exatamente no horário previsto o comboio começa a deslizar rumo a Verona. Foram aproximadamente quatro horas de viagem, passando por várias pequenas estações com rápidas paradas para embarque e desembarque. Uma parada mais longa se deu em Florença, mas apenas observamos da estação. Chegamos a Verona já no princípio da noite. Nosso amigo Mário esperava-nos na estação "Puorta Nuova" nesse dia fomos direto pra casa, conversamos bastante, jantamos e fomos dormir. Teríamos quatro dias no total, então o aproveitamento do tempo deveria ser máximo. No segundo dia fizemos um "tour" pelas várias atrações de Verona. Visitamos os castelos onde viveram os Montecchios e os Capuletos, cujos filhos marcaram a história como Romeu e Julieta, caminhamos as margens do Adige, as várias ruínas e sítios arqueológicos no centro da cidade.
     No terceiro dia, mais uma pequena viagem de trem, uma espécie de "Xangai" fomos de primeira classe e voltamos na econômica (banquinhos duros e desconfortáveis, mas valeu a experiência) a Veneza. Mais uma vez só posso dizer, maravilhoso. Pena que o tempo não estava ajudando, pois estava bastante nublado e um tanto úmido, mas mesmo assim foi possível caminhar por entre as belíssimas pontes, visitar a Piazza di San Marco com seus milhares de pombos, o Duomo e até fazer um passeio no ônibus local que é um grande barco que navega pelo grande canal. Voltamos a Verona e no dia seguinte ainda fizemos um rápido passeio a Milão onde fomos buscar a esposa do Mário que chegava do Brasil. Infelizmente o quarto e último dia chegou. Embarcamos no Pendolino rumo a Roma, de onde no dia seguinte voaríamos de volta ao Brasil. Finalmente agora podia considerar já ter experimentado viajar de trem. A próxima aventura está prevista para China em abril ou maio de 2012. Se correr tudo bem e a viagem acontecer realmente trarei um novo capítulo com muitas fotos podem ter certeza.

Francisco Bandeira no Museu Ferroviário

Novembro 
Publicado em 23/11/11
Por Francisco Bandeira

Francisco Bandeira admira o ramo ferroviário e afirma que “o trem é uma ‘coisa’ inata a qualquer bom mineiro”. Ele divide conosco sua história de criança e dos tempos em que sonhava em passear de Xangai.

E dizem que mineiro não perde o trem...



Não lembro a data correta, mas acredito que 1971 ou 1972. Sou o


caçulinha de 3 irmãos e por acaso, o temporão com 7 anos de diferença.

Não por acaso, mas até por uma certa tradição acabei sendo muito

"bajulado". Meu pai, a época funcionário do Banco do Brasil, costumava


levar-me aos domingos a seção "matiné" as 10:00h da manhã de Tom e

Jerry no antigo Cine Palace, não sem antes uma passadinha para comprar

gigantescas balas recheadas de frutas (de verdade) na Kopenhagen.

Depois costumávamos dar uma esticadinha até a praça da estação para

ver a passagem de um ou outro trem. sempre pedi para que me levasse a

passear de trem mas, apesar da existência na época do "finado" Xangai,

esse passeio nunca foi realizado. Certo dia, ele me disse que iríamos

ao Rio de Janeiro em um evento chamado "Festival Internacional da

Criança" no Pavilhão de São Cristóvão e, o melhor de tudo, iríamos de

trem. Fiquei louco e esperava ansiosamente a chegada daquele sábado (

que seria daí a 2 ou 3 dias) Naquela época havia o Vera Cruz que fazia

a ligação Belo Horizonte - Rio de Janeiro, uma grande composição, com

vários e diversificados vagões e, a Litorina, que fazia o mesmo trecho

porém era apenas um vagão automotriz. Chegou o sábado, 7:00h da manhã,

estávamos (muito mais eu, óbvio) ansiosos na estação aqui em Juiz de

Fora, bilhetes do Vera Cruz na mão devidamente "picados" pelo chefe da

estação. Chega a Litorina, alguns passageiros desembarcam, os outros

embarcam, soa o apito, ela parte e rapidamente desaparece na região do
Tupinambás. Ficamos apenas nós dois na estação. O chefe da mesma chega
e pergunta por que não embarcamos. Meu pai, pessoa um tanto quanto
reservada e rígida em seus princípios e idéias, informa que nosso
bilhete era para o Vera Cruz e o que passara fora a Litorina. Quando o
chefe da estação informa que houvera um problema e a Litorina passara
embarcando todos os passageiros fossem dela ou do Vera Cruz (naquele
tempo não tinha PROCON né!). A solução foi muito a contra gosto,
correr até a Av. Getúlio Vargas entre São João e Santa Rita, endereço
da antiga Estação Rodoviária e embarcar no próximo ônibus da Útil para
o Rio. Pelo menos me diverti bastante nos brinquedos do Festival
Internacional da Criança e pela primeira vez fui a o Jardim Zoológico.
Quanto ao passeio de trem, só fui experimentar, cerca de 25 anos
depois em uma viagem a Itália. Mas isso fica pro próximo capítulo.




Outubro 
Publicado em 15/10/11
Por Maria Magdalena Gomes Pinto

Maria Magdalena Gomes Pinto divide conosco um pouco de sua história que foi vivida em torno da ferrovia e da estação onde conheceu seu grande amor.


"Para mim, falar da Rede Ferroviária é um grande prazer e também muito emocionante, porque desde meus quinze anos respiro e suspiro a Rede. Meu irmão era maquinista, me casei com um ferroviário e ele era neto, filho, irmão e pai de ferroviários. E nosso filho, Sérgio, irá se aposentar também pela Rede e seu filho, meu neto, está se formando em engenharia que eu espero profundamente que siga esta tradição.
Tenho a Rede Ferroviária como parte da minha família, apesar de ter tido várias decepções com uns chefes, mas mesmo assim não deixo de amar a família ferroviária.
Conheci meu marido na estação de Coimbra, Minas Gerais, em 1955, vendendo passagens, que era uns cartões de papelão que ele introduzia em uma máquina e saía etiquetado, mas quem diz que eu prestava atenção, eu só olhava para ele dentro daquele uniforme azul marinho maravilhoso, de camisa branca, gravata e um quepe da cor do terno e com emblema dourado. Posso dizer que existe paixão à primeira vista, sim. Nesta ocasião, estava indo para Teixeira-MG, onde faria um enxoval para uma noiva, mas era só nele que pensava. Ficamos noivos aos três meses de namoro, dez meses depois nos casamos. Tivemos cinco filhos e uma filha adotiva que eu a amo.
Mesmo depois de aposentado, como supervisor de controle, voltou à ativa, em Bom Jardim de Minas, ficando lá por mais cinco anos. Para minha maior tristeza, hoje nossas histórias as tenho que contar sozinha, pois meu marido não está mais entre nós, mas não deixo esta chama se apagar. Talvez alguém que for ler este pequeno relato deva conhecer a família Calderaro Leão. "

Setembro

VIAJANDO DE TREM PELA EUROPA 
Por Antonio Pastori

Antônio Pastori divide conosco sua experiência de uma viagem de trem internacional e dá dicas para quem deseja fazer um passeio tranqüilo pelos trilhos do sudoeste europeu. 

Antônio Pastori no trem Tav Madri Zaragossa a 294 Km/hora.
Há duas formas de se passear pela Europa de trem: comprando o Eurail Passes, ou viajando de forma avulsa. O Eurail tem a vantagem da comodidade e do planejamento. Você pode adquirir passes para um a cinco, ou até 22 países. O prazo de validade é proporcional ao número de cidades/países destino, durando de 3 a 10 dias (uma cidade), até três meses (22 cidades). Os preços variam de US$ 51,00 a US$ 1.437,00, conforme a quantidade de cidades e prazo de validade desejado (10 dias a três meses). Os passes podem ser adquiridos pela Internet.
O outro meio é o avulso, se você está disposto a suportar um custo maior, em troca de um maior grau de liberdade: Compra-se na véspera ou mesmo na hora, para qualquer destino desejado. Os trajetos que eu fiz no verão de 2009, não foram nenhum top de linha, mas deram para conhecer bem os TAVs-Trem de Alta Velocidade e os TRs – Trens Rápidos europeus e chegar a conclusão como estamos longe e como as autoridades brasileiras são míopes. Os trechos que eu percorri foram os seguintes:

a) Paris-Bayoux, num moderno TR que vai a mais de 200km/h da SNCF. Uma excelente opção para conhecer a Normandia, e as praias do desembarque aliado do dia “D”. Dá pra fazer em um dia.

b) Paris-Rennes, num bom e velho TGV da SNCF, como opção diversa para visitar o Monte Saint Michel, voltando no mesmo dia.

c) Madri-Zaragossa, no excelente e moderníssimo TAV da RENFE: A viagem é ideal para quem quer curtir o prazer da alta velocidade - mais de 300 km - mas não quer ficar muito tempo preso dentro de um trem, sendo possível ir e voltar no mesmo dia. Imperdível e barato.

d) Madri-Lisboa. O nosso destino era a cidade de Entroncamento. Não recomendo essa viagem, pois trata-se de um trem noturno cuja viagem é longa, cansativa e desconfortável, além do que, o trem pára uma hora na fronteira, em Valencia de Alcántara, no meio da madrugada e do nada para a troca do equipamento, que será tracionado por uma loco diesel da CP-Comboios de Portugal. Entroncamento é um local bastante movimentado, conforme sugere o nome, e lá tem um interessante Museu Ferroviário.

e) Entroncamento-Aveiro. Uma bela viagem diurna no novíssimo TR Lisboa-Porto da CP, passando por Coimbra e outras belas cidades da “terrinha”. Vale a viagem.

f) Porto–Lisboa: É outra excelente opção de viagem, num TR que eu diria que estava treinando para TAV. O cenário é belíssimo e a linha vai costeando o litoral Português. Imperdível.

Por derradeiro, as seguintes dicas:

• Pesquise os roteiros pela internet das operadoras. São fáceis de consultar.

• Em Paris existe uma estação para cada direção. Atente ao fato para não pegar o trem na estação errada.

• Autentique a passagem antes de embarcar, pois vc pode ser multado pelo fiscal do trem. Lá não existe a figura do bilheteiro/picotador no trem, mas existem máquinas amarelas que fazem isso.

• Não viaje à noite de trem, prefira o avião.

• Não leve muita coisa nessas viagens de ida e volta no mesmo dia: uma mochila com agasalho, lanche, água, etc.




Agosto

Por Vanda Rodrigues

Nesta edição, a Sra. Vanda Rodrigues nos conta com saudosismo as lembranças da viagem que realizou quando criança no famoso Xangai, de Juiz de Fora a Matias Barbosa. Saiba +


Sra.Vanda Rodrigues


 “Quando eu tinha dez anos meus pais levaram meus irmãos e eu para andar de trem que tinha o nome de Xangai. Saímos da estação para ir até Matias. Foi um presente! Saímos dando adeus para todo mundo que passava pela linha e os que moravam na beira da linha como moram até hoje o pessoal do Poço Rico, Casa Branca da Serra e Avenida Rivelá.

Assim ia a criançada. Alegre, mamãe e papai levavam merenda, pois fazíamos um piquenique. Quando passava pelo túnel, que era um pouco abaixo do Abrigo Santa Helena (ou em frente, não me lembro muito bem), a gente gritava porque ficava tudo escuro e nós tínhamos medo, então quando a claridade aparecia, era aquela alegria.
E assim íamos linha afora passando pela Fazendinha, Usina Quatro, Retiro, Simão Pereira. Chegamos a Matias, passeamos pela cidade e à tarde voltamos felizes!”

O Xangai parte da estação de Juiz de Fora - anos 1990

Carros do Xangai com pintura de 1994, estacionados em Benfica 


Julho

Por Sérgio e Sônia Caderaro





Sérgio Calderaro, agente de estação, e Sônia Calderaro, auxiliar de escritório, fizeram uma bela viagem pela Estrada de Ferro Vitória-Minas para comemorar os 25 anos de casados. Aqui eles compartilham as emoções desta experiência inesquecível!

Para nós não teria forma melhor de comemorar 25 anos de casados do que fazendo uma viagem de trem. A nossa paixão pelos trilhos vem desde os tempos de namoro e principalmente quando éramos recém-casados, porque, neste período, fazíamos muitas viagens pelas ferrovias de Minas.
Em dezembro de 2010 partimos de carro de Juiz de Fora para Cariacica, Região Metropolitana de Vitória (ES), de onde sai um dos trens de passeio da Estrada de Ferro Vitória-Minas. Percorremos parte desta estrada, que vai até Belo Horizonte. A capital do Espírito Santo era nosso destino principal e, queremos enfatizar, a presença do trem foi o motivo pelo qual escolhemos essa cidade. Viajamos durante mais ou menos seis horas até desembarcar em Governador Valadares, onde esperamos o trem que vinha da capital mineira para, então, podermos curtir o restante da viagem em Vitória.
O que mais nos chamou a atenção foi o Rio Doce, pela sua largura e volume de águas. A viagem foi confortável, tranqüila e gostamos muito do serviço de bordo. Passeamos por outros vagões e sentimos o vento no rosto, o que o vagão executivo não permitiu, por ter ar condicionado. Almoçamos no vagão restaurante e achamos interessante que os pratos e copos não mexiam, apesar do balanço do trem. Passamos por várias localidades e vimos lindas paisagens. Mesmo tendo feito apenas metade do trajeto entre as duas capitais, foi possível relembrar os velhos tempos em que viajar de trem fazia parte da vida da gente.
                                          Sônia Calderaro minutos antes de dar início à viagem